domingo, 14 de agosto de 2011

DISCURSO PARA A TURMA DE JORNALISMO 2011.1


Por uma razão de somenos, não li o discurso que fiz pros alunos na festa de formatura. Tem nada, não. Deixo, então, aqui, de presente para eles e para quem mais quiser...São palavras sinceras, sobretudo.

DISCURSO DE FORMATURA
TURMA 2011.1 – CURSO DE JORNALISMO

MEUS QUERIDOS ALUNOS,
MINHAS QUERIDAS ALUNAS,
FAMILIARES, AMIGOS, AMIGAS, COLEGAS DA UFMA, DEMAIS CONVIDADOS:

Fiquei realmente emocionado por ser escolhido como paraninfo dessa Turma de Jornalismo. Uma distinção, uma honraria para mim, cuja felicidade divido agora com todos, especialmente meus colegas da UFMA, tão responsáveis quanto eu pelo percurso que vocês fizeram. Muito obrigado pelo convite!
Como é de praxe nesses momentos protocolares, sempre deixamos aos alunos exortações sobre a carreira, a profissão, os caminhos tortuosos do Jornalismo, com seus perigos, seus idílios, suas arapucas, etc, etc, etc.
Mas eu não sou muito dado a protocolos, por isso vou fazer diferente. Ao invés de discorrer apenas sobre a profissão, quero falar também da vida. Isso não é sem motivo. Faço assim para já adiantar o conteúdo de um livro de autoajuda no qual estou trabalhando: um arrazoado de 99 lições de vida, minhas e das pessoas com quem venho convivendo e de quem tiro coisas positivas. Ainda estou escolhendo o título, mas muito inclinado a ficar com este: “Faz por ti, que eu te ajudarei.” É uma frase pouco conhecida, mas parece que foi um cara muito importante quem disse. Ainda vou conferir no Google...
Pois bem, dessas 99 pílulas de sabedoria, escolhi sete para lhes deixar nessa noite.
PRIMEIRA: Cultivem os amigos que vocês fizeram na faculdade, aproveitem para se reconciliar com aqueles com quem vocês se indispuseram. Isso tem duas utilidades. A primeira é ontológica, afinal, o “Homem é um ser social”, já dizia um filósofo, parece que um tal de Joedson, um cara pouco lido e menos ainda compreendido no seu próprio tempo...Todos precisamos dos outros, em algum momento da vida, ou quase sempre, ou sempre. Por isso é bom ter amigos. A segunda razão é pragmática: o seu amigo de hoje pode ser o seu chefe de amanhã; o seu desafeto, também... Em muitas oportunidades da vida, vocês vão perceber que o network é mais importante que o diploma que vocês acabaram de receber...
SEGUNDA: Tenham uma relação com um Ser superior, tenham fé em alguém. E aqui não importa se esse alguém se chama Deus, Jeová, Buda, Alá, Brama, Maomé, Dalai Lama, Tupã ou Professor Astro. A sua fé é inquestionável, seus dogmas devem ser respeitados, sejam eles quais forem, desde que lhes façam felizes e não agridam os que os rodeiam. A fé é a estaca na qual nos seguramos quando todo o resto em nossa volta desaba.
TERCEIRA: Aos que ainda não casaram e desejam fazê-lo um dia, façam bons casamentos. O casamento é uma instituição que se sustenta no amor, no sexo, no dinheiro e no companheirismo, tudo isso junto, independente de ordem. Numa alegoria, o casamento é um triângulo de quatro lados. O casamento, independente do modelo, sempre faz bem. Mas o bom casamento faz melhor...
QUARTA: Não se matem de trabalhar para dar conta das quinquilharias materiais que vocês acabaram por obter achando que precisam de tudo aquilo. Guardem um tempo para viver: ir ao cinema; banhar de chuveirão domingo com umas duas na cabeça ou não; namorar; viajar; ficar na internet navegando e não apurando; brincar com as crianças, suas ou emprestadas; ouvir música; ver televisão, inclusive programas ruins; papear, cara a cara; ir à igreja; mergulhar no Tocantins; sonhar no chão da sala.
QUINTA: Leiam sempre. Mas não leiam só por obrigação, por dever do ofício que abraçaram, não. Leiam também por prazer. Façam leituras edificantes {Nota explicativa: leitura edificante, aqui, não tem nada a ver com folheto de condomínio fechado...}. Leiam aquilo que vocês acham prazeroso e importante. Toda leitura serve para alguma coisa, mesmo que não sirva para nada, aparentemente. A leitura instrui, diverte, entretém, é companhia nas horas fáceis e difíceis.
SEXTA: Guardem uma reserva financeira. Não gastem tudo o que ganham, muito menos mais do que ganham. Não acreditem naquele vovô de uma certa propaganda de uma financeira local que declama, entusiasticamente: “Na fulana de tal eu posso...”. Pensem no futuro. A profissão, como tudo o mais nesses tempos liquefeitos, é um tanto quanto instável. Tenham alforjes cheios para, se houver necessidade, sobreviver em tempos de laudas vazias... Lembrem-se da fábula da formiga e da cigarra...a verdadeira, de La Fontaine.
SÉTIMA: Vejam telenovela. Como dizia meu querido professor Aluízio Ramos Trinta, no mestrado da ECO, na UFRJ, “a telenovela é o espelho da vida brasileira.” Ontem estava vendo “Insensato Coração” e me deparei com a cena em que o personagem André, vivido por Lázaro Ramos, é surpreendido pela notícia de que tem câncer...no testículo. Parece uma cena ingênua, mas só parece. Para quem acompanha a novela, o André é bem sucedido, autossuficiente, namorador e...negro! Como toda narrativa encerra uma sanção no seu final, o final de um negro pegador de mulheres lindas, brancas e algumas ainda loiras não podia ser outro que não a purgação da insolência. A novela é o espelho da sociedade, e nossa sociedade ainda é muito preconceituosa... com negros, com homossexuais, com idosos, com pobres, com favelados, com deficientes de toda ordem, com profissionais pouco qualificados, com quem não tem um “comportamento de manada”. A esses, resta uma espiral do silêncio, velada mas firme como um torniquete...
Mas e a Maria Cesária? Aquela negra linda e cozinheira que, na novela das seis, casou com um príncipe branco de olhos verdes? Maria Cesária vai ser rainha de Seráfia e, como toda narrativa de realismo fantástico como é Cordel Encantado, Seráfia não existe na vida real, Seráfia não é o Brasil...
Por que falar de novela num momento como esse? Porque a novela, como uma caixa de Pandora, encerra nossos piores preconceitos. E, para não deixar de falar em jornalismo no final deste discurso, a missão de nós, jornalistas, é lutar para diminuir os preconceitos – para mim, a maior praga do século que se inicia e cujo final não veremos...ou veremos?
É isso. Sejam felizes, da melhor forma que acharem que podem ser. Façam valer a vida, pois, como disse Benjamim Disraeli, escritor britânico, “A vida é muito curta para ser pequena.”
Muito obrigado!!

Um comentário:

  1. Ótimo texto.
    Como sempre, muito inspirado.
    Concordo inteiramente, principalmente, com a sétima lição.
    Parabéns.

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